Falar das caixas racionais para a criação de abelhas nativas sem ferrão é entrar num assunto bem diverso. Isso é devido a grande quantidade de espécies que existe, cada uma com seu tamanho, suas peculiaridades e exigências para poderem habitar uma caixa. Estima-se que no Brasil ocorram cerca de 300 espécies de abelhas sociais sem ferrão.
Essas caixas de um modo geral, foram desenvolvidas ao longo de décadas por criadores regionais de forma empírica, tentando imitar o espaço dos ocos das árvores, onde encontravam seus enxames. No início eram apenas caixotes compridos, a maioria em posição horizontal mas ao longo das últimas décadas, com o aumento veloz do número de criadores, essas caixas foram bastante pesquisadas, foram e continuam sendo reinventadas, na busca por melhor adaptação ás necessidades de cada espécie de abelha criada. Hoje o modelo de caixa racional mais utilizado pelos criadores é o modelo conhecido com caixa modular vertical, desenvolvida pelo pesquisador e meliponicultor Fernando Oliveira em 1999 , quando trabalhou para o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA). Essa caixa vem se provando como a mais racional e prática para a criação da maioria das espécies de asf.
Mas existem caixas de muitos modelos.
A caixa horizontal é uma das mais tradicionais e simples. É muito antiga e consiste basicamente em um caixote deitado com um furo pra entrada e saída . É bastante utilizada até hoje nas regiões norte e nordeste do Brasil e também é conhecida como caixa cabocla ou caixa nordestina, muito usada nas criações de abelha jandaira e urussú. Não há separação entre ninho e melgueira e as abelhas escolhem livremente onde e como se organizar dentro da caixa. A partir daí alguns criadores fizeram uma divisória entre o ninho e melgueira, deixando um furo de passagem. Foram acrescentadas dobradiças na tampa superior e o modelo ficou conhecido por caixa baú. A abelha manduri se dá muito bem nesse modelo de caixa.
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Caixa horizontal cabocla ou nordestina, a mais simples |
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Caixa horizontal "baú"com divisão entre ninho e melgueira, e tem tampa com dobradiças |
Já o modelo PNN foi desenvolvida na década de 1950 por Paulo Nogueira Neto, o grande pioneiro e criador do termo meliponicultura. Esta caixa consiste basicamente de dois módulos horizontais sobrepostos e com uma abertura ao centro para a passagem do ninho. O ponto fraco desse modelo é que não tem como separar os módulos sem estrangular desordenadamente o ninho.
As caixas verticais surgiram com os criadores querendo se aproximar ainda mais das condições que a abelhas encontram nos ocos de árvores. Começou reposicionando o caixote retangular para a posição vertical. Nas caixas simples, tanto a horizontal quanto a vertical, a extração do mel fica passivo de contaminação. É feita através de um furo por baixo e no lado oposto ao do ninho. Destrói-se os potes deixando o mel escorrer, mantendo a caixa inclinada durante o processo. No caminho pelo fundo da caixa ele entra em contato com diversas substâncias, algumas nada saudáveis como a lixeira da colméia, rica em organismos contaminantes.
Os criadores Wilson Gussoni e Ailton Fontana fizeram uma divisória e reposicionaram o ninho na parte alta da caixa. No momento da colheita todo o bloco de baixo contendo os potes de mel é recortado com uma faca e retirado da caixa, para depois ser espremido e coado. Com o estrangulamento dos potes esse mel também fica a mercê de contaminação por microorganismos, embora menor do que nos modelos simples, onde o mel é escorrido na própria caixa. É um modelo muito utilizado pra criação de abelha jataí e mirins. Foi denominada de caixa WF.
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Na caixa WF o ninho foi posicionado na parte superior |
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A caixa AF melhorou o conforto térmico |
Outra modificação de caixa INPA foi desenvolvida pelo meliponicultor José Carlos Wegrzinoski em 2007 no estado de Santa Catarina , colocando duas melgueiras nas duas laterais de ninho e do sobreninho. Foi desenvolvida pra abelha jataí, recebeu o nome de caixa JCW e o criador afirma que todas as colônias (mais de 50) alojadas nesta caixa produziram uma quantidade de mel superior do que nos outros modelos. O ponto mais fraco é que a caixa precisa de três tampas.
Entretanto a caixa racional que vem fazendo mais sucesso, provando-se mais prática e que rapidamente ganhou espaço entre os meliponicultores é a que foi chamada de caixa INPA. Foi desenvolvida na virada deste século no Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia pelo pesqusador e meliponicultor Fernando Oliveira.
A primeira experiência de alojar as abelhas nativas em caixa modular e com evolução vertical (mais próximo do que ocorre na natureza) foi feita pelo professor angolano Virgilio Portugal Araújo em 1955. Ele concebeu módulos verticais de ninho e melgueira sobrepostos, mas sem divisórias. E foi por volta do ano 2000 que o pesquisador Fernando Oliveira concebeu as divisórias entre ninho, sobreninho, melgueiras, e as dimensões dessas caixas. Sua contribuição revolucionou o manejo das abelhas nativas, facilitando muito na hora de dividir um enxame ou de colher o mel. O manejo ficou mais perto do princípio da interferência mínima. Essas divisórias permitem que os módulos se separem sem causar nenhuma ruptura nos potes de mel, e que na hora de dividir o enxame, a separação do ninho e sobreninho também ocorra com um mínimo de invasão e pouquíssimo estresse.
Evoluções da cx inpa: separação entre fundo e ninho, colocando o tubo de entrada no fundo e deixando o ninho idêntico ao sobreninho, trazendo ainda mais versatilidade na hora da divisão da colônia. Outros meliponicultores de regiões mais frias afirmam que existe muita perda de calor por conta da grande quantidade de junções entre os módulos. Isto foi melhorado fazendo encaixes em baixo relevo entre eles, o que também melhorou a proteção contra invasores dispensando o uso das fitas crepe em torno da caixa.
Existem ainda outros modelos que pretendem trazer alguma variação aos já aqui citados como os modelos circulares novy e ayretama, a caixa horizontal santos, a caixa batths e um grande número de modelos experimentais, como as caixas pra abelhas subterrâneas e as caixinhas de vidro conhecidas como caixas didáticas.
O material de construção no geral é a madeira mas também se registra o sucesso de caixas de cimento aerado, onde se busca uma vida útil e isolamento térmico bem maiores do que as feitas em madeira. Também um fabricante elaborou caixas impa feitas em plástico e com paredes internas em isopor tornando-a muito leve. Como dito antes, as pesquisas e inovações não param e a tendência é de se adquirir cada vez mais conforto e segurança para as abelhas e maior praticidade para os meliponicultores.