8/23/21

JATAÍ, JÁ TÁ EM TODO LUGAR

Não tem como deixar de falar dela em meliponicultura e não foi atôa que essa estrela foi escolhida pra o desenho da logo do meliponário e para a capa do site. Ela está densamente presente desde o sul do México até o norte da Argentina. Na Colômbia já foi encontrada a cerca de 2000m. de altitude e em plena cordilheira dos Andes. Está entre as abelhas sem ferrão mais bem sucedidas das Américas, se não a mais. Tornou-se capaz de habitar desde florestas, matas, campos, caatingas e semidesertos até as  cidades mais concretadas e poluídas. Pois um dos grandes segredos para que isso seja possível é o seu modo  generalista de alimentação, quer dizer, em sua adaptação evolutiva a espertíssima aprendeu a tirar proveito das flores de quase qualquer espécie de planta!   Então vamos  contar mais um pouco sobre algumas curiosidades que acompanham essa poderosa abelha.

Jataí coletando na flor

De nome científico Tetragonisca angustula (existem mais duas espécies neste gênero), seu nome popular jataí vem do tupi-guarani. Mas também é conhecida por jati, abelha-ouro, sete-portas, abelha-de-botas, minguinho, mosquitinho-verdadeiro, angelitas (América Central), señoritas (Bolívia) e Aiyus (descendentes Mayas).  Informações aprofundadas sobre essa asf, bem como dicas de seu manejo em caixas racionais são facilmente encontradas, portanto vamos aqui nos ater apenas sobre algumas curiosidades que fazem desta abelhinha uma criatura excepcional e simplesmente encantadora!
Pois um de seus maiores encantos reside na entrada de sua colônia, uma vez que constroem um pequeno tubo de cera  onde algumas abelhas montam guarda pousadas no entorno  desse tubo, pelo lado de fora enquanto outras pairam ao seu redor voando permanentemente, vigiando o entra e sai das operárias e atentas a aproximação de qualquer ameaça. É um esvoaçar de aparência muito tranquila, como se estivessem suspensas no ar por algum amparo invisível. Não se conhece outra abelha sem ferrão que nos proporcionem na mesma intensidade esse espetáculo visual de expressão quase hipnótica, nos presenteando um verdadeiro deleite no simples contemplar de sua "porta de entrada".

Pito de entrada da Jataí
 
VIDEO   a "porta de entrada" das jataís


Mas o que elas tem de doce e singelo na aparência, tem de valente e belicosa na maneira de ser e agir. Até onde se sabe é a única espécie de asf que desenvolveu uma casta de operárias cujo papel é exclusivamente o de defesa da colônia. Essas operárias-soldado podem compor até 6% da colônia e são de tamanho bem maior que o das outras operárias. A um sinal claro de ameaça ou invasão da colônia por predadores, se lançam sobre estes sejam mamíferos ou outras abelhas, agarrando com determinação o invasor com suas mandíbulas. Se forem abelhas de outras espécies, não importa o tamanho, prende a mandibula na asa da adversária até a morte, tornando impossivel o seu vôo. Se for um animal de sangue quente se lançam beliscando o canto dos olhos e partes moles, penetrando em todos os orifícios da cabeça e provocando um grande mal estar no bicho que geralmente corre afugentado. E não é apenas com outras espécies que exercita sua valentia. Em época de enxameação é comum guerrearem com outras colônias mais fracas de jataí intentando seu extermínio para ali estabelecerem sua nova colônia. Chega a ser assustador a quantidade de adversárias que nesse momento agarradas umas as outras , se embolam no chão agarradas até a morte, em frente á colônia atacada. 
Mas claro que na criação racional esses comportamentos são em sua maior parte contornáveis e graças a toda essa valentia, rusticidade e grande ocorrência é a abelha mais aconselhada pra quem quer se iniciar na meliponicultura. Se sabe até de meliponicultor se lamentando por só conseguir capturar jataís em suas iscas, kkkk.

Jataí capturada em ninho-isca
Jataí capturada em ninho-isca


Na medicina popular são muitos os povos americanos que usam o mel de jataí nos olhos, pra tratamento de catarata e nas complicações do sistema respiratório. Aqui no Brasil é um saber que faz parte da tradição das populações rurais e a receita consiste em misturar uma parte de mel de jataí com 3 partes de água filtrada ou soro fisiológico ou ainda água de côco in natura. Daí pinga-se uma gota diariamente no olho afetado. É um costume popular e ainda sem comprovação científica. O que se sabe através de pesquisas é que o mel de jataí (assim como da maioria das asf) possue mais água que o das abelhas com ferrão e por conta disso elas acrescentam maiores quantidades de substâncias antibióticas afim de evitar a sua degradação. Pode estar aí o segredo de suas propriedades curativas. Nesta página encontra-se um relato de cura acompanhado de muitos comentários endossando o tratamento: http://www.legarb.com.br/2013/01/mel-de-jatai-cura-catarata.html
Na comunidade Yuracaré Cochabamba-Bolívia, as mulheres de 30 famílias nativas se envolveram em um projeto para desenvolver e disseminar práticas de cura tradicionais, entre as quais o uso do mel de jataí na cura de conjutivite e catarata  http://edmundofgabus.blogspot.com/2012/04/bolivia-usos-medicinales-de-la-miel-de.html 

Aplicação de mel de señorita (jataí) nos olhos por mulheres Yuracarés-Bolívia

 

VIDEO   Jatais urbanas

As jataís são as melhores abelhas pra quem está iniciando na meliponicultura. São relativamente baratas, fáceis de se encontrar e muito rústicas, suportando uma larga faixa de climas e altitudes. Uma grande vitoriosa na corrida evolutiva. Aqui no meliponário a utilizamos na produção de própolis mas tb passamos a vender seus enxames